*Gabriella Caroline Belenello, *Keroline Emanoeli Garcia de Carvalho, *Marina de Oliveira da Silva Bomfim, *Natália Leão Fernandes Brito, *Tatiane Priscila Borges, **Josiane Ivonara Monteiro, ***Sandra Crestani
*Discente do curso Superior de Tecnologia Estética e Cosmética. Centro Universitário UNIOPET.
**Docente do curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmética – Centro Universitário UNIOPET.
***Docente do curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmética – Centro Universitário UNIOPET. Doutora em Farmacologia – Universidade Federal do Paraná.
Autor correspondente: sancbio@gmail.com
RESUMO
O cabelo crespo e cacheado muitas vezes foi visto com maus olhos, o que influenciou muitas pessoas a alisarem ou esconderem seus cachos. A demanda de produtos e informações para cuidar desse tipo específico de cabelo também era muito escassa, porém após a conscientização das pessoas e influência da mídia os cachos passaram a ser aceitos e assumidos e como consequência disto a indústria passou a produzir mais produtos para esse público, facilitando assim seu cuidado e modelagem. Essa aceitação teve grande impacto na autoestima de muitas mulheres que por sua vez deixaram de fazer o alisamento, assumindo assim a forma natural de seus cabelos. Porém esse é um processo demorado que exige muita paciência, pois nessa fase os fios estão muito danificados e exigem mais atenção. Mas é possível tornar esse processo mais fácil e agradável com alguns cuidados diários. A obtenção de dados para esta pesquisa foi realizada através da aplicação de um questionário com 12 perguntas e distribuídos para 47 mulheres em Curitiba e região metropolitana, que foram abordadas em salões de beleza e a domicilio próximos de nossa localização. As entrevistadas foram selecionadas de acordo com seu tipo de fio, sendo assim todas possuem os cabelos ondulados, cacheados ou crespos, com ou sem alisamento, observou-se que 45% possuem alisamento capilar e optaram por essa técnica principalmente pela praticidade de manipulação. Algumas dessas mulheres (aproximadamente 28%) têm intenção de voltar à forma do cabelo natural, mas 55% ainda pretendem manter o alisamento. Apesar de esse processo químico ser uma técnica agressiva, apenas 36% das entrevistadas relatou algum dano ao fio, ao passo que 38% disseram que não houve danos perceptíveis. No processo de transição do alisamento para os fios naturais poucas mulheres optam pela remoção total dos fios alisados, a maioria prefere remover aos poucos, apenas com o corte das pontas. Aproximadamente 80% não são capazes de identificar o seu tipo de cacho, apesar disso usam produtos e técnicas de arrumação recomendados para seus fios, mas poucas usam técnicas de lavagem e cortes adequados para seu tipo específico de cacho. Nos últimos anos o apelo para que as mulheres assumam seus cachos cresceu significativamente, porém, ainda há uma parcela importante de mulheres que mantém o alisamento químico por motivos que vão desde a praticidade, passando pelo preconceito e não aceitação dos próprios cabelos. O assunto em questão pode constituir um amplo campo de atuação para os profissionais da estética, já que está em grande expansão.
Palavras- chave: Cabelo cacheado, transição, aceitação.
ABSTRACT
Curly and curly hair was often seen with bad eyes, which influenced many people to straighten or hide their curls. The demand for products and information to care for this specific type of hair was also very scarce, but after awareness of the people and influence of the media the curls became accepted and assumed and as a consequence of this the industry began to produce more products for this audience , Thus facilitating their care and modeling. This acceptance had a great impact on the self-esteem of many women who in turn failed to do the straightening, thus taking on the natural shape of their hair. But this is a time-consuming process that requires a lot of patience, because at this stage the wires are badly damaged and require more attention. But it is possible to make this process easier and more enjoyable with some daily care. Data collection for this research was carried out through the application of a questionnaire with 12 questions and distributed to 47 women in Curitiba and metropolitan region, who were approached in salons and at home near our location. All the interviewees have wavy, curly or curly hair, with or without smoothing, it was observed that 45% have capillary straightening and opted for this technique mainly for the practicality of manipulation. Some of these women (approximately 28%) intend to return to natural hair shape, but 55% still intend to maintain straightening. Although this chemical process is an aggressive technique, only 36% of the interviewees reported some damage to the thread, while 38% said there was no noticeable damage. In the process of transition from straightening to natural yarn, few women opt for the total removal of straightened yarns, most prefer to remove them only by cutting the ends. Approximately 80% are not able to identify their type of bunch, although they use recommended products and storage techniques for their yarn, but few use washing techniques and cuts appropriate for their specific type of bunch. In recent years the appeal for women to assume their curls has grown significantly however, there is still a significant portion of women who maintains the chemical straightening for reasons ranging from practicality, through prejudice and not acceptance of their own hair. The subject in question can constitute a wide field of action for professionals of aesthetics, since it is in great expansion.
Key-words: Curly Hair, Transition, Acceptance.
1 INTRODUÇÃO
Observando a história dos cabelos crespos e cacheados, é possível perceber que a maioria das mulheres com esse tipo de cabelo era insatisfeita com a textura e formato dos fios já que esses tendem a ser ressecados, porosos e volumosos, por isso passaram a alisá-los. Provavelmente essa tendência de alisamento teve grande influência da mídia que difundiu, mesmo que implicitamente a ideia de que cabelos lisos e sem volume eram o ideal. Outro fator importante a ser considerado, talvez tenha raízes mais profundas no nosso processo de colonização e escravidão, uma vez que muitos associam os cabelos crespos a afrodescendentes e imprimem sobre essas mulheres uma carga enorme de preconceito. Essas informações são reforçadas por várias pesquisas, em 2012 uma delas demonstrou que cerca de 70% das mulheres com cabelos cacheados faziam alisamento (GIAMPÁ, 2016). Felizmente, nos dias atuais a população feminina vem aceitando e assumindo cada vez mais seus cachos. Essas mulheres têm ido além, buscando técnicas, produtos e procedimentos estéticos que melhorem a aparência e qualidade dos fios (MORAES et al., 2015; NAKASHIA e VALIM 2011).
Essa maior aceitação da identidade natural dos cabelos impulsionou o desenvolvimento de novos produtos, profissionais especializados e cuidados específicos para esse tipo de fio, já que esse conceito era aceito apenas no exterior e recentemente foi aderido pelos profissionais brasileiros. Consequentemente com uma maior oferta de linhas próprias para cabelos cacheados, a população passou a cuidar e assumir seu cabelo na forma natural (BRASIL.ELPAIS, 2015). Nosso objetivo foi fazer um levantamento junto a mulheres de cabelos ondulados, cacheados e crespos com o intuito de identificar o quanto estas conhecem seus próprios fios, bem como identificação dos diferentes tipos de cachos e técnicas para obtenção e manutenção em deixá-los bem definidos, hidratados e bonitos.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O cabelo é visto como um dos marcos da cultura de cada povo, sendo assim, o cabelo afro tornou-se um dos ícones da cultura africana. Tendo em vista que o cabelo liso sempre foi o padrão ideal, isso influenciou na autoestima de muitas mulheres que por sua vez passaram a alisar os fios com a intenção de se sentirem mais bonitas e inclusas na sociedade (BALHEGO, 2016). Os primeiros relatos denotam que a beleza dos cachos já era percebida desde a antiguidade, entretanto, o parâmetro de beleza dos cabelos foi sofrendo mutações ao longo da história. Houve períodos em que os indivíduos evidenciavam os cachos e outros onde os escondiam, por vários fatores que vão desde um simples “modismo” até o preconceito. Finalmente, na década de 70, o cabelo crespo alcançou seu auge, com a moda focada nos Black powers[1], surgindo logo após os permanentes, bobs e bigudins, que eram uma forma de evidenciar a cultura negra na sociedade (NAKASHIMA e VALIM, 2011).
Porém, alguns anos depois o cabelo liso voltou a ser o foco principal com influência significativa dos meios de comunicação o que levou muitas mulheres a realizarem procedimentos químicos para alisarem seus cachos, pois estes passar am a serem vistos como “cabelo ruim”, sendo motivo de vergonha para grande parte da população que possuía esses tipos de fio (MASSEY e BENDER, 2015).
A composição química do cabelo é formada por 80% de queratina e 20% de água, sais minerais, lipídios e outros nutrientes. Entretanto, o que diferencia a estrutura do fio entre um cabelo crespo, cacheado, ondulado ou liso é a sequência de aminoácidos, dando origem a um novo diâmetro em vários pontos do fio (DIAS, 2015; FERREIRA, 2016). Já a estrutura do cabelo é formada por cutícula, parte superficial do fio, córtex, camada intermediaria e medula, centro do folículo piloso. (GAMA, 2010).
O cabelo possui três ligações químicas principais: as de hidrogênio que são as mais fracas, quebradas com a ação da água. É através do rompimento desta que conseguimos modelar os fios com o secador, chapinha, babyliss entre outros; Ligações salinas também chamadas de ligações iônicas, são consideradas médias e se rompem com a alteração do pH através de soluções alcalinas aplicadas nos fios, causando uma abertura na cutícula; Ligações de dissulfeto ou enxofre, são as mais fortes das três, e só se rompem nos processos de alisamento ou permanente, pois esses produtos químicos adicionam um átomo de hidrogênio para cada átomo de enxofre o que gera o rompimento permanente dessa cadeia causando danos na fibra (MELLO, 2010; VARELLA, 2007).
A organização dessas estruturas dá origem ao fio de cabelo que, no caso do cabelo cacheado/crespo cresce na diagonal ao couro cabeludo formando assim um ângulo que gera as curvaturas nos fios. No corte transversal de um cabelo afro é notória sua forma plana, já no cabelo caucasiano, sua característica predominante é oval e ablongo (FRANÇA, 2014; FERREIRA, 2016).
Para a maioria das pessoas, os cabelos cacheados são tidos como cabelos fortes e resistentes, entretanto esse tipo de cabelo tende a ser mais seco, fino e fraco e, por este motivo necessitam de uma atenção especial (SABARÁ, 2008). O cabelo afro é mais frágil em relação aos caucasianos, no que se diz respeito a resistência do estiramento e da quebra do fio. Por conta de sua estrutura capilar, é comprovado que o cabelo caucasiano tem uma retenção de umidade maior do que o cabelo afro, em cerca de 5%, o que torna os fios enrolados mais secos (LIMA, 2016).
2.1 TIPOS DE CACHOS
Existem várias classificações dos diferentes tipos de cachos, porém o os pioneiros desta classificação foram o norte-americanos André Walker e o portal Naturally Curly (traduzido como “naturalmente cacheado”) que juntos criaram a classificação de cachos que é aceita e usada mundialmente, com o objetivo de auxiliar as pessoas a identificar os diferentes tipos de cachos (NATURALLY CURLY, 2016), de acordo com Naturally Curly os cachos são classificados em:
- Ondulado – Tipo 2: os fios dessa forma são próximos ao formato de onda, são parecidos com onda ‘’S’’, possui raiz lisa(Figura 1), é um tipo propenso ao frizz (NATURALLY CURLY,2016).
- 2 A: sua ondulação é suave no comprimento dos fios, não possui volume, é o tipo mais fácil para manusear em penteados;
- 2 B: sua forma “S’’ é mais fechada e tem maior propensão ao frizz;
- 2 C: sua ondulação é maior, é o cabelo ondulado mais próximo do tipo cacheado, são cabelos que possuem textura mais grossa (GIAMPÁ, 2016).
- Cacheado – Tipo 3: são fios que lembram um espiral (Figura 2), embaraçam com maior facilidade, possuem um leve brilho natural e são mais ressecados(NATURALLY CURLY, 2016).
- 3 A:seus cachos possuem maior abertura, modelado, com brilho natural dos fios;
- 3 B:possui ressecamento natural, contém frizz, seus cachos são mais fechados;
- 3 C: contém maior definição por ser mais fechado, sua estrutura é fina e sensível, embaraça com facilidade(GIAMPÁ, 2016).
- Crespo – Tipo 4: são fios mais sensíveis e delicados, pois sua estrutura é desigual ao longo de sua extensão, a oleosidade natural é pequena e necessitam de mais cuidados e produtos com um maior potencial de hidratação(NATURALLY CURLY,2016).A estrutura desses cachos pode ser observada na figura 2.
- 4 A: cachos menores e arredondados, são mais fechados, entre os do tipo 4 é o mais macio ao toque;
- 4 B: seu formato “Z”, não possui definição e costuma embaraçar com facilidade;
- 4 C:é um cacho definido mesmo quando seco ele não altera sua forma natural e possui um visual mais blackpower (GIAMPÁ, 2016).
Figura 1: Subclassificação dos cachos tipo 2, 3 e 4. No primeiro painel é possível identificar os cachos do tipo 2A, 2B e 2C; No segundo painel estão representados os chachos do tipo 3A, 3B e 3C; No painel 3 pode-se observar os cachos dos tipos 4A, 4B e 4C. Fonte:http://desventurasdeumacacheada.com.br/como-identificar-o-seu-tipo-de-cacho/
2.2 TRANSIÇÃO CAPILAR
A transição capilar consiste na fase onde o indivíduo, em geral mulher, está com parte do cabelo com química e outra parte natural. Portanto o cabelo fica enrolado na raiz e liso nas pontas. A parte do fio que tem alisamento se encontra muito danificada, pois esse processo químico causa danos na estrutura capilar, deixando-a mais frágil, com perda do brilho e maciez o que dificulta a penteabilidade e a modelagem do cabelo (VARELA, 2007).Nessa etapa ainda se desconhece a textura natural dos fios, já que geralmente o alisamento é praticado há bastante tempo, portanto o resultado se torna uma incógnita (MORAES E JORDÃO,2015).
É importante ressaltar que nessa fase de transição os fios ficam mais sensíveis, ressecados e com frizz[2], principalmente na divisão do liso para o enrolado e os cachos ainda estão sem forma definida, não se deve usar chapinha ou secador na tentativa de camuflar a transição, pois isso pode danificar ainda mais o fio e influenciar na forma do cacho natural. Fazer uso de produtos específicos para hidratação e cuidado com os cachos nessa fase também influência na qualidade do resultado final (MATOS, 2016).
A recomendação é que os cachos sejam lavados de duas a três vezes por semana, na água morna ou fria, pois a água muito quente tende a lesionar o couro cabeludo e retirar a oleosidade natural dos fios, deixando-os mais ressecados. É importante utilizar shampoos sem sulfato, parabenos e silicones, pois esses produtos químicos tendem a agredir o cabelo. O sulfato, assim como a água muito quente, retira a oleosidade natural dos fios, deixando-os com aspecto ressecado. Já os para benos e silicones formam uma película sobre o fio impedindo-o de absorver água, nutrientes e vitaminas, isso tudo em longo prazo resulta em um cacho sem forma, com frizz e seco (MASSEY, 2015).
Após a lavagem com o shampoo e remoção total do produto, aplica-se o condicionador, enluvando os fios e amassando-os no sentido da raiz para dar forma aos cachos. É fundamental deixar o produto agir no cabelo durante o tempo indicado pelo fabricante e depois enxaguar. Como os cabelos crespos e cacheados precisam de cuidados especiais, uma vez por semana é indicado que o condicionador seja substituído por uma máscara, para obter uma hidratação mais eficaz. Para a finalização da lavagem é preciso retirar todo o excesso de água do cabelo com o auxílio de uma toalha de microfibra ou tecido de algodão, pois estes absorvem melhor a água e evitam o frizz no cabelo fazendo movimentos delicados no sentido da raiz, em seguida aplique o creme de pentear. Além disso, é importante a utilização de um protetor térmico para secagem dos fios com difusor (NAKASHIMA e VALIM, 2011). Abaixo serão descritas algumas técnicas disponíveis:
- Co- wash: traduzido como “lavar com condicionador”, essa técnica se baseia na não utilização do shampoo na hora da lavagem dos fios utilizando somente o condicionador, a fim de evitar possíveis agressões no cabelo que geralmente são causadas pelos agentes químicos existentes nos shampoos como os sulfatos, silicones e parabenos (https://www.allthingshair.com).
- No- poo: traduzido como “sem shampoo”. Nessa técnica utilizam-se apenas bálsamos higienizadores para lavar os fios, que não produzem espuma alguma e não possuem em sua fórmula sulfatos, petrolatos e silicones (www.meucabelonatural.com.br).
- Low-poo: traduzido como “pouco shampoo”. Nessa modalidade são utilizados shampoos com agentes menos agressivos na lavagem, porém estes produzem pouca espuma, pois contém uma quantidade mínima de sulfato em sua formulação. Tanto essa técnica, quanto o No-poo foram patenteados pela especialista Lorraine Massey (GIAMPÁ, 2016).
2.2.2 Técnicas para pentear
Para desembaraçar os cachos também é necessário ter um cuidado especial, procure utilizar um pente com dentes largos, preferencialmente de madeira, pois ajuda a evitaro frizz. Com o cabelo ainda úmidocomece a desfazer os nós no sentido das pontas para a raiz, com bastante delicadeza para evitar a quebra dos fios. Existem também algumas técnicas para modelar os cachos de acordo com o gosto pessoal de cada um. Alguns exemplos são a fitagem, dedoliss e ploppin (http://www.belezaextraordinaria.com.br):
- Fitagem: essa técnica de pentear consiste em enluvar mecha por mecha do cabelo com o leave-in[3] e moldá-las com as mãos, essas mechas podem ser mais grossas ou finas para obter cachos maiores ou menores respectivamente, amassando os fios no sentido da raiz. É muito utilizada na finalização do penteado, pois ajuda a dar mais forma e definição ao cabelo (AllThingsHair Unilever, 2016).
- Dedoliss: nessa técnica divide-se o cabelo em quatro partes, sendo elas laterais, frente e nuca, após, enrola-se pequenas mechas com os dedos formando cachinhos. O dedoliss deixa o cabelo com uma aparência mais definida e por este motivo é muito utilizado por meninas que estão na fase de transição (GIAMPÁ, 2016).
- Plopping: logo após o banho, retira-se o excesso de água do cabelo com o auxílio de um tecido de algodão amassando os cachos no sentido da raiz, após enrolar os fios com o mesmo tecido e deixar até o cabelo secar quase que totalmente. Essa técnica é muito utilizada para aquelas que não fazem o uso do difusor e preferem deixar os cachos secar naturalmente (http://www.belezaextraordinaria.com.br).
As linhas de produtos específicos para o cabelo crespo/ cacheado mais indicadas são aquelas que possuem em sua composição elementos como, emolientes, umectantes e hidratantes que auxiliam na nutrição, maciez, brilho, redução de frizz, definição e controle dos cachos. Os produtos mais indicados são os leave-in, ativador de cachos, pomada modeladora, gel, mousse e umectantes, citados na tabela 1 (MASSEY, 2015).
Tabela 1: produtos específicos para cabelos crespos e cacheados e suas respectivas funções.
(NAKASHIMA, VALIM, 2011; All Things Hair Unilever, 2016).
3 METODOLOGIA
Para o embasamento teórico desse trabalho, fizemos uso de artigos científicos, seminários específicos, livros e materiais disponíveis na biblioteca, além de sites de pesquisa como Naturally Curly, Bioextratus, Meu cabelo natural, Allthings Hair, Bepantol e Beleza extraordinária que serviram de base para o conteúdo do trabalho. Em uma segunda etapa fizemos uma coleta de informações com mulheres que tenham cabelo com alisamento, em fase de transição ou na forma natural. Essa aquisição de dados se deu através de um questionário com 12 perguntas e entregue á 47 mulheres de Curitiba e região metropolitana, em salões de beleza e abordagem domiciliar próximas a nossa região, que visa avaliar o nível de satisfação ou insatisfação com o cabelo cacheado, analisar a quantidade de pessoas que estão passando, passaram ou pretendem passar por transição capilar e identificar quais delas sabem identificar seu tipo específico de cacho e fazer o uso correto dos produtos e técnicas específicas para o mesmo. O resultado está representado em gráficos.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados desse estudo apontam que de um total de 47 mulheres entrevistadas, 21 dessas possuem alisamento químico nos cabelos, o que corresponde a 45% (Figura 2). Esse percentual significativo de mulheres com alisamento capilar pode estar relacionado a vários fatores, porém o principal motivo relatado pelas entrevistadas é a praticidade, já que o estilo de vida moderno da mulher atual exige um cabelo mais fácil e rápido de manusear.
Figura 2: Porcentagem de pessoas que possuem alisamento capilar. As respostas fornecidas pelos indivíduos são apresentadas como percentual do número de resposta apresentado nos 47 entrevistados.
Porém atualmente, ao que nos parece, as mulheres pararam de negar suas origens e resolveram assumir seus cabelos em formato natural, deixando de lado a ditadura do liso. Como podemos observar algumas mulheres com o referido cabelo pararam de aderir às químicas para alisar, deixando seus fios crescerem naturalmente. Esse período é conhecido como transição e exige uma atenção maior, utilizando produtos e técnicas específicas para realçar a beleza dos cachos (GIAMPÁ, 2016). Isso se reflete nos resultados de nossa pesquisa, uma vez que, das mulheres que relataram possuir alisamento capilar, 28% pretendem deixar de fazer alisamento e voltar aos fios em seu formato natural (Figura 3A).
Dessas mulheres que tem alisamento 45% ainda prefere mantê-lo por várias razões, a primeira delas, é que as entrevistadas acham o cabelo liso mais prático, 9% não aceitam o próprio cabelo na forma natural, 6% ainda relatam que o cabelo liso é mais bonito e 2% já sofreram algum tipo de preconceito. Entretanto o que mais chama a atenção é o percentual de mulheres que não responderam ou deram outras justificativas como, por exemplo, “não gosto de cabelo cacheado ou crespo”. Isso demonstra a não aceitação dos seus cabelos por essas mulheres o que provavelmente impacta diretamente na autoestima das mesmas (Figura 3B).
Figura 3: Porcentagem de pessoas que tem a intenção de deixar os fios naturais (a) e motivos pelos quais os entrevistados optaram pelo alisamento químico (b). Os valores são representados como percentual do número de resposta apresentados nos 47 entrevistados.
No que tange aos danos capilares provocados pelo alisamento, 36% afirmaram que ocorreram danos na fibra capilar após o alisamento, 26% não notaram danos e 38% não responderam ou não passaram por esse procedimento (Figura 4). É importante mencionar que algumas de nossas entrevistadas não estavam com alisamento no momento da abordagem ou deixaram de fazê-lo há algum tempo por isso os resultados em relação aos danos capilares se referem aos 47 entrevistados. Provavelmente aquelas que disseram que não relataram danos ao fio, não tenham percebido as mudanças de forma visível, pois o alisamento causa alterações na estrutura capilar, perceptíveis apenas na parte interna do fio.
Figura 4: Percentual de pessoas que notaram ou não danos na fibra capilar após alisamento. Os valores são representados como percentual do número de resposta apresentados nos 47 entrevistados.
Ao entrevistarmos as mulheres que estavam em processo de assumir os fios naturais dos cabelos observamos que 62% representados por “outros” não responderam ou não lembrou há quanto tempo deixou de alisar os fios e 6% já mantinha os fios naturais por período de 6 meses, 9% de 6 meses a um ano e 23% por mais de um ano. Isso reforça a ideia de que nos últimos anos as mulheres têm assumido seus fios em formato natural, trazendo movimento aos cabelos (Figura 5A).
A transição capilar é uma das fases mais complicadas, pois há certa dificuldade em encontrar cortes, técnicas e produtos adequados para esse período. Boa parte das mulheres se sente mal com o próprio cabelo e são necessárias muitas técnicas para conseguir arrumar os fios mesmo estando divididos. Assim conforme o cabelo vai crescendo, as pontas vão sendo cortadas proporcionalmente, logo o cabelo estará completamente natural. Para as mais radicais, existe também a técnica do big chop (grande corte), onde a mulher corta toda a parte lisa do cabelo, deixando o mesmo crescer do zero (GIAMPÁ, 2016). Esse corte foi adotado por apenas 10% de nossas entrevistadas onde houve a remoção total dos fios alisados, 28% fizeram o corte progressivo, ou seja apenas nas pontas e 62% não responderam (Figura 5B).
Figura 5: Porcentagem correspondente ao tempo que as entrevistadas deixaram de fazer alisamento (a) e estratégia adotada para remoção dos fios alisados (b). Os valores são representados como percentual do número de resposta apresentados nos 47 entrevistados.
Em relação à identificação dos cachos 21% afirmaram que sabem identificar qual o seu tipo de cacho conforme a classificação de NaturallyCurly (2016) (Figura 1, 2 e 3) e 79% não sabem (Figura 6). Provavelmente esses dados se devem ao fato de esta classificação ser algo novo que não tem muita divulgação entre o público leigo. Por isso, tais conhecimentos a respeito da classificação dos cachos, em geral, ficam mais restritos aos profissionais da área de estética e beleza. Entretanto de acordo com os criadores da classificação dos cachos essa informação é primordial para que o indivíduo encontre os produtos, técnicas e tratamentos adequados para cuidar dos cabelos naturais de forma correta (NATURALLY CURLY, 2016).
Figura 6: Percentual de entrevistadas que sabem ou não identificar seu tipo de cacho. Os valores são representados como percentual do número de resposta apresentados nos 47 entrevistados.
Na questão de utilização de produtos específicos para o seu tipo de cabelo 62% afirmaram que utilizam os produtos indicadas para cabelos cacheados, 38% não utilizam (Figura 7A). Como grande parte das mulheres resolveu assumir seus cachos naturais elas necessitam de uma demanda maior de produtos específicos para cuidar de seus cabelos, isso fez com que a indústria cosmética passasse a focar em linhas especializadas de produtos (BIONDO e DONATI, 2013). Alguns exemplos de ativos que são indicados para cabelos cacheados são: a Aloe vera (babosa) que é responsável pela hidratação, brilho, redução do volume e definição dos cachos (bioextratus.com.br); Glicerina que possui um grande potencial hidratante e reduz o frizz, porém deve ser utilizada diluída para evitar o efeito rebote, dando preferência aos produtos que a contenham (GIAMPÁ, 2016); o D- Pantenol também é um poderoso hidratante, pois retém a água nos fios promovendo maciez (www.bepantolderma.com.br); Os óleos vegetais também são muito indicados para os cabelos crespos e cacheados, pois eles têm a função de nutrir e hidratar além de grande potencial antioxidante deixando os cachos mais definidos e com muito brilho.Todos esses princípios ativos podem ser aplicados tanto na raiz quanto nas pontas e são indicados para as praticantes de No e Lo –poo (GIAMPÁ, 2016).
Em relação às técnicas para a manutenção correta dos cachos 40% afirmaram que praticam as técnicas adequadas ao seu tipo de cacho e 60% não praticam e não conhecem técnicas para manutenção dos cachos (Figura 9B). Referente às técnicas de lavagem 4% praticam Co whash, 11% praticam Lo poo, nenhuma entrevistada relatou praticar a técnica de No poo e 85% praticam lavagem convencional (Figura 9C).
Dentre as 47 entrevistadas, 32% afirmaram que fazem o corte correto para o seu tipo de cacho e 67% não fazem o corte adequado (Figura 9). Como existem diferentes tipos de cachos, cada um possui um corte especifico que irá realçar a sua melhor forma. De maneira geral, os mais indicados são os cortes irregulares, como degrade ou picotados, que dão mais forma e volume ao cabelo. Para aquelas que não gostam que o cabelo fique muito volumoso o ideal é optar por cortes mais retos para que os fios pesem mais (BIONDO e DONATI, 2013). Para obter um cacho bem definido e volumoso, é necessário cortar os fios secos, pois assim temos uma ideia clara de sua estrutura original, já que quando o cacho está molhado sua forma natural se altera, o que influencia no caimento. Os fios devem ser cortados no “C” de cada cacho, ou seja, exatamente na sua curvatura, para que não percam seu desenho (MASSEY, 2015).
Figura 7: Porcentagem de entrevistados que utilizam produtos específicos para seu tipo de cabelo (a); conhecem técnicas de arrumação (b) ou lavagem (c) ou utilizam corte específico para seu tipo de cacho (d). Os valores são representados como percentual do número de resposta apresentados nos 47 entrevistados.
5 CONCLUSÃO
Os resultados obtidos neste trabalho nos sugere uma tendência muito forte das mulheres assumirem seus cabelos com os fios em seu formato natural. Aliado a isso a indústria inseriu no mercado inúmeros produtos voltados para esse público crescente que representa uma parcela significativa dos consumidores. Seguindo esse mesmo pensamento foi lançado a poucos anos uma classificação para os diferentes fios dos cabelos desde ondulados a crespos, entretanto poucas pessoas são capazes de identificar o tipo do fio do seu próprio cabelo. Apesar disso, boa parte usa técnicas, cuidados e produtos voltados para os cabelos cacheados, apesar de não identificar o produto adequado para seu tipo específico de fio. Apesar desse movimento para que as mulheres assumam seus cachos, ainda há uma parcela importante que ainda mantem os alisamentos químicos por motivos que vão desde a praticidade, passando pelo preconceito e não aceitação dos próprios cabelos. Nesse contexto, trabalhar com cabelos ondulados, cacheados ou crespos parece ser uma grande possibilidade para os profissionais da estética e cosmética, pois é um campo em ampla expansão. Entretanto, é importante lembrar que a obtenção dos dados foi feita a partir de uma amostra aleatória de mulheres de cabelos ondulados, cacheados e crespos e, pode não representar o panorama de outras regiões.
[1]Black power: significa “poder negro” na tradução literal do inglês para o português, e ficou conhecido como um movimento que evidenciava a cultura e a resistência negra numa sociedade predominantemente racista. O cabelo blackpower é um dos principais símbolos deste movimento cultural que começou a ganhar destaque nos anos 1960 e 1970, principalmente nos Estados Unidos. Fonte: https://www.significados.com.br/black-power
[2]Frizz é uma condição onde os fios apresentam uma cutícula ressecada que se abre e perde o sentido correto, causando assim o arrepio nos cabelos. Fonte:https://www.allthingshair.com/pt-br/penteados-cortes/cabelos-crespos/frizz-o-que/
[3]Leave-in é,um creme sem enxágue para ser usado nos cabelos, logo após a lavagem com shampoo e/o condicionador. Serve para condicionar os cabelos dando continuidade ao processo de limpeza e hidratação dos fios, sem precisar retirar o produto, auxiliando na modelagem dos cachos. Fonte:http://www.dicasdecabelo.com.br/2008/12/18/o-que-leave-in/
6 REFERÊNCIAS
BALHEGO, Juliana; Cabelo ruim? A representação do cabelo crespo na publicidade brasileira, p. 25-29, 48-49 – 2016.
bioextratus.com.br/sublinhas/nutri-cachos-hidratacao-biologica/#gs.Kltlynl acesso em 29/03/2017 ás 19:54h
BIONDO, Sonia e DONATI, Bruno – Cabelo, 2013
DIAS, Tania Cristina de Sá – Avaliação in vitro do efeito de diferentes processos de alisamentos químico/térmico na fibra capilar – Programa de Pós Graduação – Faculdade de Ciências farmacêuticas. – São Paulo, p. 10 2015. Disponível em: file:///C:/Users/Rodrigo/Downloads/Tania_Cristina_Sa_Dias_DO_corrigida%20(2).pdf
FERREIRA, Lilian Abreu; BRAGA, Danielly Caixeta – Substâncias ativas do alisamento capilar e seus mecanismos de ação. – Minas Gerais, vol. XIII, n. 2, p. 58 2016. Disponível em: https://revistas.ufg.br/REF/article/view/36292/pdf
FRANÇA, Simone Aparecida – Caracterização dos cabelos submetidos ao alisamento/relaxamento e posterior tingimento. – São Paulo, p. 6,16-17 -2014.
GAMA, Robson Miranda – Avaliação do dano a haste capilar ocasionado por tintura oxidativa aditivada ou não de substancias condicionadoras. – São Paulo, p. 8-12 2010. Disponível em: file:///C:/Users/Rodrigo/Downloads/Mestrado_Robson_Miranda_daGama%20(1).pdf
GIAMPÁ, Sabrina. O livro dos cachos: aprenda a amar e cuidar do seu cabelo como ele é. 1ª ed. – São Paulo: Paralela, 2016.
HALAL, John – Tricologia e a Química Cosmética Capilar, 2011
https:/www.significados.com.br/black-power/>acesso em 18/03/2017.
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