Jéssica de Camargo* Larissa Ferraro Grybogi* Taís Naiara da Luz* Talyta Mahrara Barbosa Alexandre* Keylla Lençome Mischiatti**, Sybelle S. K Okuyama***, Sandra Crestani****

*Discente do curso Superior de Tecnologia  Estética e Cosmética. Centro Universitário UNIOPET.

**Docente do Curso de Estética e Cosmética. Centro Universitário UNIOPET. Doutora em Ciências Farmacêuticas – Universidade Federal do Paraná.

***Docente do Curso de Estética e Cosmética. Centro Universitário UNIOPET. Mestre em Tecnologia em Saúde – PUC – PR.

****Docente do curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmética – Centro Universitário UNIOPET. Doutora em Farmacologia – Universidade Federal do Paraná.

Autor correspondente: sancbio@gmail.com

RESUMO

O envelhecimento é um processo fisiológico e inevitável, decorrente de danos ocorridos ao longo do tempo levando a degradação de algumas funções do organismo humano, em nível de célula (incluindo estresse oxidativo com produção de radicais livres), tecido e órgãos que variam de indivíduo para outro. Atualmente há uma busca cada vez mais intensa de tratamentos e/ou ativos que possam contribuir para a redução ou prevenção dos sinais de envelhecimento. Nesse contexto, tem sido descrita com várias propriedades terapêuticas a apigenina, um flavonoide que está presente em muitos vegetais e que é utilizado para tratamentos capilares. Dentre essas propriedades, merecem destaque a ação antitumoral, anti-inflamatória, antioxidante e recentemente ação protetora contra radiação ultravioleta.  Este ativo, em geral, é pouco encontrado ou encontrado não como constituinte majoritário, nas preparações destinadas a aplicação na pele. Assim, este trabalho tem por objetivo testar a estabilidade de formulações contento apigenina nas concentrações de 0, 1, 3 e 5%. Esse ativo foi incorporado em cinco diferentes bases cosméticas: creme Lanette, creme não-iônico, gel creme, creme de natrosol e sérum. Foi feita avaliação do aspecto visual, pH e análise sensorial de cada formulação imediatamente após a incorporação do ativo e mais duas análises decorridos 7 e 14 dias. Este flavonoide é pouco solúvel em água e por isso optou-se por dissolver a apigenina em propilenoglicol, que é um importante solvente hidrossolúvel utilizado na indústria cosmética e farmacêutica e que na pele auxilia na umectação. Os resultados sugerem que a apigenina é passível de ser incorporada em diferentes bases sem alteração significativa em seu aspecto, pH ou sensorial. Entretanto, a formulação com gel de natrosol apresentou ligeira separação em fases. Algumas preparações como a gel creme apresentaram melhora em alguns parâmetros avaliados quando comparados com o controle, sugerindo que essa base pode ser interessante para formulações com apigenina.

Palavras-Chaves: Apigenina, análise sensorial, bases galênicas

ABSTRACT

Aging is physiological and inevitable process due to damage that has occurred over time leading to body functions reduction, including cells, (e.g. free radical production and oxidative stress), tissue and organs damage. Currently there is increased search to treatments and / or molecules that may contribute to reduction or prevention of aging signs. In this context, apigenin, (flavonoid present in many plants) used for hair treatments, has been described with various therapeutic properties. Among these properties, deserve to be highlighted antitumor, anti-inflammatory, antioxidant and recently, protective action against ultraviolet radiation. Apigenin is not common compound, at least not major, in preparations for skin application. Then, was tested stability of apigenin-containing formulations at concentrations of 0, 1, 3 and 5%. Apigenin was incorporated in five different bases: Lanette cream, nonionic cream, cream gel, cream of natrosol and serum. The visual aspect, pH and sensorial analysis of each formulation were evaluated immediately after apigenin addiction and after 7 and 14 days. This flavonoid is poorly soluble in water and was dissolved in propylene glycol, which is an important water soluble solvent used in the cosmetic and pharmaceutical industry. Our results suggest that apigenin can be incorporated into different cosmetic bases without significant changes in its appearance, pH or sensory. However, the natrosol gel formulation presented slight phase separation. Some preparations such as cream gel showed improvement in some parameters evaluated when compared to the control, suggesting that this base may be interesting for apigenin formulations.

Key words: apigenin, sensory analysis, galenic bases

INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um processo fisiológico e inevitável que atinge todos os seres humanos, decorrente de fatores dinâmicos, progressivos e irreversíveis, ligados a fatores biológicos, psíquicos e sociais. (Brito e Litvoc, 2004). É decorrente de danos ocorridos ao longo do tempo levando a degradação de algumas funções do organismo humano, em nível celular, tecidual e orgânico que variam de indivíduo para outro. Muitas dessas alterações podem sofrer influência de processos multifatoriais que envolvem aspectos genéticos endógenos e ambientais (Landau, 2007; Viñas e Miquel, 2007; Farage et al., 2008). Dentre os fatores exógenos a região geográfica, clima, exposição ao sol e hábitos de vida como ingestão de álcool e consumo de cigarro são relevantes para o aparecimento dos sinais de envelhecimento. De acordo com Jenkins (2002), as consequências do envelhecimento humano são visíveis principalmente na pele, manifestando-se com o aumento de rugas, flacidez, textura irregular e elasticidade diminuída. Sugere-se também que a pele envelhecida tenha a função de barreira e a permeabilidade alterada, resultando em um aspecto seco e aumento de risco de distúrbios da pele (Zouboulis e Makrantonaki, 2011; Hashizume 2004). Uma série de processos como angiogênese, produção de lipídios e suor, função imune e síntese de vitamina D também são prejudicados na pele envelhecida (Choi et al., 2016). De modo geral isso pode levar ao prejuízo da cicatrização, atrofia, vulnerabilidade a estímulos externos e no desenvolvimento de várias doenças benignas e/ou malignas (Zouboulis e Makrantonaki, 2011).

Atualmente há uma busca constante por novos procedimentos e/ou ativos que possam ser usados na prevenção ou tratamento dos sinais de envelhecimento. De modo geral as plantas e seus constituintes, em especial os flavonoides, tem despertado o interesse contínuo da indústria farmacêutica e cosmética, além de ter um apelo muito grande junto à população consumidora. Os flavonoides são os compostos fenólicos mais comumente encontrados em plantas (Kumar and Pandey, 2013). Esses compostos podem ter várias estruturas com propriedades fisiológicas distintas, incluindo ação antioxidante (Kumar and Pandey, 2013), hepatoprotetor (Tapas, et al., 2008), antibacteriano (Cushnie e Lamb, 2005), anti-inflamatória (Nishizuka, 1988; Hunter, 1995), anticancerígena (Davis e Matthew, 2000), antiviral (Cushnie e Lamb, 2005), redução de estresse oxidativo (Agati e Tattini, 2010; Agati et al., 2012), etc.

Apigenina (4’,5,7-trihydroxyflavone) é um flavonoide amplamente encontrado em plantas e por isso é um componente da dieta humana. Há estudos demonstrando uma série de características biológicas, incluindo propriedades antioxidantes (Sharma et al., 2014), anti-inflamatórias (Wang et al., 2014), inibidoras de crescimento tumoral (Polier et al., 2015) e neurogênese (Taupin, 2009). Além disso, foi demonstrado que a apigenina melhora a cicatrização de feridas e reparo tecidual na pele de ratos diabéticos (Lodhi e Singhai, 2013). É importante lembrar que durante o processo de cicatrização os fibroblastos secretam colágeno e há a formação de tecido de granulação rico em colágeno, que é fundamental para o fechamento da lesão (Singer e Clark, 1999), sugerindo que a apigenina pode ter um papel na produção dessa importante proteína estrutural. Na área cosmética a apigenina é encontrada em formualações indicadas para antiqueda e promoção de crescimento capilar (https://cosmetics.specialchem.com/apigenin, 2017). Entretanto, nas preparações cosméticas destinadas a outros tratamentos, como por exemplo antienvielhecimento, a apigenina não é um constituinte presente, ou pelo menos não enquanto composto majoritário e/ou descrito como responsável pelo efeito. Considerando as propriedades farmacológicas da apigenina já descritas, sugerere-se que essa flavona pode ser uma alternativa na prevenção e/ou tratamento dos sinais de envelhecimento cutâneo. Porém, por se tratar de um ativo ainda pouco usado comercialmente nessas preparações o conhecimento acerca do comportamento deste em formulações cosméticas com essa finalidade ainda é escasso.

De acordo com o Guia de Estabilidade para Produtos Cosméticos da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA há critérios para aprovação de produtos em estabilidade. Em geral, consideram-se o aspecto (o produto deve manter-se íntegro mantendo seu aspecto inicial), cor e odor (devem manter estáveis durante, no mínimo, 15 dias em exposição à luz solar), viscosidade (deve ser definida pelo formulador levando em consideração percepção visual e sensorial e também que o consumidor possa conhecê-las) e compatibilidade com o material de acondicionamento (considerando a integridade da embalagem e da formulação). O documento mencionado sugere parâmetros de avaliações organolépticas (que devem ser adequadas pelo avaliador), cor, sabor, odor, aspecto e sensação ao tato, avaliações físico-químicas, valor de pH, teor de ativo, umidade, e ainda outros testes que vão caber ao formulador avaliar sua adequação ao produto. A proposta do estudo foi investigar as propriedades organolépticas da apigenina em diferentes formulações cosméticas, buscando a melhor estabilidade, avaliação sensorial e adaptação às bases e concentrações distintas, com o vislumbre de futuras preparações cosméticas que possam ser usadas como antiaging.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A pele, importante órgão do corpo humano, é exposto a várias substâncias endógenas e exógenas que contribuem para o envelhecimento e consequentemente redução de algumas funções. Ao longo do processo natural de envelhecimento os processos fisiológicos naturais são alterados. Dentre esses estão à função de barreira e a capacidade de retenção hídrica da pele humana, que são diminuídas em função de fatores como a exposição à radiação ultravioleta (UV) (Lim, et al., 2008).

Segundo estudos, Choi e colaboradores (2016), indicadores de hidratação cutânea como umidade, perda de água transepidermal, textura e uniformidade da pele foram melhorados depois de 2 e 4 semanas de tratamento com apigenina. Além disso, esses autores demonstraram que a apigenina foi capaz de aumentar a densidade e elasticidade dérmica e reduzir o comprimento de rugas finas. Adicionalmente foi demonstrado que a apigenina inibiu a citotoxicidade induzida em por radiação UVA in vitro. De acordo com esses estudos, que foram desenvolvidos no Korea Institute for Skin and Clinical Sciences, os autores sugerem fortemente que a aplicação tópica do creme de apigenina pode amenizar os efeitos do envelhecimento da pele, aumentando a função de barreira da mesma (Choi et al., 2016). Apigenina tem sido descrita como tendo várias atividades biológicas em vários tipos de células, como propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, anti-mutagênicas e anti-tumorigênicas (Wei et al., 1990; Myshrstad et al., 2002; Singh et al., 2004; Ha et al., 2008). Uma das principais causas do processo de envelhecimento é a oxidação celular que acontece a todo o momento, danificando o DNA devido ao encurtamento dos telômeros (consequência dos inúmeros processos de divisão sofridos pelas células). Quanto maior a oxidação, menor o grau de reparação celular, levando as células a uma maior deterioração ciclo após ciclo. Não foi encontrado na literatura nenhum estudo específico sobre o uso do ativo apigenina em formulações cosméticas. Apenas estudos em laboratório utilizando metodologias in vitro ou in vivo, neste caso com número reduzido de pacientes. Entretanto, a apigenina é apresentada como um flavonoide com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que “protegem” as moléculas do DNA, auxiliando no tratamento e prevenção de doenças neurodegenerativas e até mesmo do câncer (Polier et al., 2015). Apesar disso, são necessários mais estudos que confirmem esse potencial antienvelhecimento. Considerando  as características desse ativo e os achados na literatura, torna-se fundamental um estudo que vise avaliar as possibilidades de formulações contendo a apigenina, bem como a sua viabilidade.

METODOLOGIA

Todas as atividades foram realizadas no Laboratório de Química das Faculdades OPET – Campus Rebouças sob a supervisão da professora doutora Sandra Crestani (orientadora) ou da professora doutora Keylla Lençome Mischiatti (co-orientadora). As avaliações foram feitas logo após a produção de cada formulação e repetidas mais vezes após 7 e 14 dias da incorporação para verificar se houveram alterações durante a estocagem. Todavia, não foram avaliados aspectos que necessitassem de aprovação do Comitê de Ética em experimentação ou do Conselho Nacional de Saúde, dispensando tal trâmite.

Formulação

As preparações foram feitas em diferentes bases (gel de natrosol, gel creme, sérum, creme Lanette e creme não iônico) com apigenina nas concentrações de 1, 3 ou 5%, manipuladas a quente ou a frio, totalizando 20 formulações diferentes.

Para a técnica de preparo do creme Lanette, creme não iônico e gel-creme pesou-se os componentes da fase aquosa e fase oleosa separadamente, aqueceu-se sob agitação em becker de vidro a fase aquosa até 70ºC e a fase oleosa até 75ºC, verteu-se a fase aquosa sob a oleosa sob agitação até total resfriamento. Por fim, adicionou o ciclometicone a temperatura ambiente (aproximadamente 18,9ºC), aferiu-se o pH (4,5 – 5,5) e acondicionou-se a base em frasco previamente higienizado e rotulado para identificação.

Para o preparo do gel de natrosol adicionou-se em um becker a água, o ácido cítrico, o nipazol e aqueceu-se até total solubilização dos reagentes. Removeu-se da chapa e incorporou-se o natrosol, agitando até completa solubilização e formação do gel (80ºC). Aferiu-se o pH e observou-se que o mesmo estava levemente ácido. Adicionou-se 2 a 3 gotas de solução de hidróxido de sódio (NaOH), corrigiu-se o pH para faixa entre 5 e 6. Em seguida a base foi acondicionada em frasco previamente higienizado e rotulado para identificação. Detalhes da composição das bases podem ser observados na Tabela 1.

A formulação da base Sérum Sepigel (aproximadamente 9 gramas) foi doada por uma farmácia de manipulação cuja responsável prefere manter anonimato. A farmácia também auxiliou as alunas na compra do ativo, pois o mesmo não pode ser adquirido por pessoa física (Laudo técnico no anexo 1).

Após a preparação das bases, estas ficaram armazenadas no laboratório por 14 dias, quando então foi feita a incorporação do ativo e análise físico-química e sensorial para qualificar as bases.

Incorporação do ativo

Para as bases creme não-iônico, gel-creme, gel de Natrosol e creme Lanette foram utilizadas as seguintes quantidades de ativo para cada 100g de base produzida:

• 1% – 0,3g de ativo proporcionados para 29,7g de base;
• 3% – 0,9g de ativo proporcionados para 29,1g de base;
• 5% – 1,5g de ativo proporcionados para 28,5g de base.

Para o Sérum Sepigel foi proporcionado:

• 1% – 0,02g de ativo para 2g de base;
• 3% – 0,06g de ativo para 2g de base;
• 5% – 0,1g de ativo para 2g de base.

No caso do Sérum Sepigel optou-se por não tirar a diferença de base da formulação total, pois a quantidade utilizada seria muito pequena para realizar as análises posteriores.

O ativo foi dissolvido em propilenoglicol, suficiente para diluir o ativo, com o auxílio de um almofariz e pistilo adicionado à base e envazado em embalagem individual de 30g previamente higienizada e identificada.

TABELA 1: Composição das bases galênicas utilizadas nas manipulações.

FA – Fase aquosa; FO – Fase oleosa; qsp – quantidade suficiente para; x indica que o constituinte não foi utilizado na formulação.

Análises

Imediatamente após a adição da apigenina foi feita avaliação macroscópica das características físico-químicas abrangendo características como pH, viscosidade e solubilidade das formulações, inclusive se houve ou não existência de separação de fases dos sistemas. Também foram avaliados a temperatura, umidade relativa. Características organolépticas como  cor, odor, sabor e aspectos como espessura (líquido, pastoso, cremoso).

À analise sensorial avalia os aspectos de brilho, opacidade, absorção, deslizamento, resíduo, suavidade, oleosidade, gordura e cerosidade (os parâmetros avaliados foram adaptados de Palermo, 2015 e Minim e Silva, 2016). Para isso, uma pequena porção de cada preparação foi colocada no dorso da mão com o auxílio de uma espátula e a avaliação foi subjetiva. Cada formulação cosmética foi avaliada por duas pessoas, simultaneamente. A cada mudança de preparação as avaliadoras higienizavam as mãos para assegurar a autenticidade da análise sensorial. Uma porção das bases sem incorporação da apigenina foi utilizada como controle. Importante ressaltar que durante todo o procedimento, a umidade relativa do ar e a temperatura interna do laboratório se mantiveram em média de 55 % e 18,9ºC, respectivamente.

RESULTADO E DISCUSSÃO

A apigenina é uma flavona pertencente a grande classe dos flavonoides que é encontrado em ervas, frutas e vegetais (Choi et al., 2016). Tem sido demonstrado que este composto tem várias atividades biológicas, incluindo antioxidante (8), anti-inflamatória (9), antitumoral (10), antimutagênico (Choi et al., 2016), promotor de neurogênese (11) e reparador de dano tecidual em modelos animais diabéticos (12). Recentemente foi demonstrado que a apigenina é capaz de inibir a citotoxicidade induzida por radiação ultravioleta A (UVA) in vitro e prevenir os sinais de envelhecimento cutâneo in vivo (Choi et al., 2016). Conforme mencionado anteriormente, na cosmética a apigenina é um ativo utilizado em preparações para tratamento de alopecia, havendo poucas formulações com outras finalidades contendo o referido ativo.

Além disso, tem sido demonstrado que a apigenina é pouco solúvel em água. Entretanto, a solubilidade de uma substância, no caso a apigenina, é importante em todas as fases da formulação e desenvolvimento de um produto farmacêutico ou cosmético (Shakeel et al., 2017). Existem alguns vários estudos que buscam uma formulação da apigenina com boa solubilidade, absorção e biodisponibilidade (Xiao et al., 2011). De acordo com Shakeel e coloboradores (2017) a apigenina tem solubilidade considerada satisfatória em polietilenoglicol-400, dimetilsufoxido, transcutol e propilenoglicol. Considerando esses dados, optamos por diluir a apigenina em propilenoglicol, que é um importante solvente hidrossolúvel utilizado na indústria cosmética e farmacêutica, que auxilia na umectação da pele. Foi observado que os dados estão de acordo com os estudos apresentados, possuindo uma solubilidade adequada para a incorporação nas bases. Conforme observado na Figura 1 todas as preparações cosméticas possibilitaram a incorporação do ativo apigenina, em todas as concentrações testadas (1%, 3% e 5%). Entretanto, nas formulações com o gel de natrosol é possível observar uma separação de fases na segunda e terceira avaliações (decorridos 7 e 14 dias da incorporação do ativo) (Figura 1, foto N e S). As demais características organolépticas (cor, odor) não se alteraram durante as avaliações. Esse é um resultado interessante, pois para Oliveira (2009) essas características são uma forma simples de avaliar a homogeneidade de um produto, que é feita intuitivamente por todos os consumidores quando em um primeiro contato com o cosmético.  Além disso, a ANVISA (2004) sugere que alterações na cor e aroma do produto são indícios de alteração na conservação do produto, e, portanto, de estabilidade. O estudo avaliou esses parâmetros imediatamente após a formulação, 7 e 14 dias após, e conforme mencionado as características foram mantidas. Entretanto, no caso de um produto a ser usado em humanos (estudo ou tratamento), seria interessante avaliar esses parâmetros por um período maior.Figura 1: Características visuais das formulações com diferentes concentrações de apigenina. Foto A) formulação controle de creme Lanette; Foto B) formulação controle de creme não-iônico; Foto C) formulação controle gel-creme; Foto D) formulação controle gel de Natrosol; Foto E) formulação controle sérum sepigel; Foto F) creme Lanette com apigenina 1%; Foto G) creme não-iônico com apigenina 1%; Foto H) gel-creme com apigenina 1%; Foto I) gel de Natrosol com apigenina 1%; Foto J) sérum sepigel com apigenina 1%; Foto K) creme Lanette com apigenina 3%; Foto L) creme não-iônico com apigenina 3%; Foto M) gel-creme com apigenina 3%; Foto N) gel de Natrosol com apigenina 3 %; Foto O) sérum sepigel com apigenina 3%; Foto P) creme Lanette com apigenina 5%; Foto Q) creme não-iônico com apigenina 5%; Foto R) gel-creme com apigenina 5%; Foto S) gel de Natrosol com apigenina 5%; Foto T) sérum sepigel com apigenina 5%;

Outro fator relevante nas formulações cosméticas é o pH. De modo geral a pele mantém seu pH entre 3.5 e 5.0, variando de acordo com a região. Nas formulações o pH ficou entre 4.5 e 5.5, na primeira análise. Entretanto na segunda análise da base galênica gel de Natrosol (controle) apresentou pH em torno de 3.0. Esse dado é interessante, pois sugere que a apigenina contribuiu para manutenção do pH nessa preparação. De acordo com Galembeck e Csordas uma das propriedades mais importantes de um cosmético é o pH, que deve ser o mais próximo possível do pH natural da região onde será aplicado. Seguindo este documento, cremes e loções para aplicação na pele devem ter pH próximo de 4.5, o que corrobora com os resultados obtidos. Para esses mesmos autores o pH pode ser ajustado com ácidos orgânicos fracos ou soluções alcalinas, como hidróxido de alumínio ou borato de sódio. Porém, nesses casos há o risco de formação de resíduos indesejados, encarecimento do processo de produção e/ou aumento das chances de alguma reação indesejada na pele dos pacientes.

A análise sensorial é uma ferramenta baseada nos estímulos desencadeados pela formulação nos sentidos humanos como visão, tato, paladar, olfato e sabor. Esse tipo de avaliação foi inicialmente utilizado pela indústria alimentícia (Taniguchi, 2017) e por isso não tem uma ficha padrão com todos os parâmetros pré-determinados. Entretanto, vem ganhando cada vez mais importância na indústria de cosméticos, uma vez que o toque e a percepção em relação a um cosmético podem interferir na adesão ao tratamento/uso e impactar diretamente no desenvolvimento e venda do produto (Taniguchi, 2017). Esta técnica permite avaliar a aceitação do produto pelo consumidor, o que em tese é um fator dificilmente avaliado por um método analítico físico-químico (Philippe et al., 2004; Tham, et al., 2016). Não há uma ficha padrão com todos os parâmetros determinados, por isso utilizou-se como referência Palermo (2015) e Minim e Silva (2016) que atribui valor de 0 a 10 para todos os itens, exceto absorção, que é dada pelo número de fricções com que o produto perde a umidade.

Os resultados demonstram que o creme Lanette com apigenina nas três concentrações teve uma pegajosidade visual e sensorial (força necessária para separar os dedos da pele (Palermo, 2015)) comparada com o controle em ambas as avaliações (1, 2 e 3) (todos os dados referentes a essa base são apresentados nas tabelas 2, 3, 4 e 5 colunas 2, 3 e 4). Resultados semelhantes se repetiram em relação ao brilho, resíduo, suavidade, oleosidade e gordura que foram mantidos após a incorporação da apigenina (1, 3 ou 5%), assim como decorridos 14 dias após a manipulação do cosmético. Houve uma redução de ~ 50% da umidade (controle = 3) quando foi incorporado apigenina 1%, acredita se que esta característica se dá ao fato de o ativo ter sido diluído em propilenoglicol sem seguir um padrão de dosagem. Porém esse efeito não parece ser dependente da concentração e nem do tempo, pois se manteve semelhante nas formulações com apigenina 3% e 5% e também após 14 dias. Em relação ao espalhamento, que indica a facilidade com que um produto pode ser espalhado sobre a pele (Palermo, 2015), a adição a apigenina 1% reduziu esse parâmetro de 5 (controle) para 4, porém com o ativo nas concentrações de 3% e 5% a redução foi para 3, sugerindo que a presença desse ativo causa uma maior dificuldade de espalhar o cosmético. O número de fricções necessárias para que o produto perca umidade é chamado de absorção (Palermo, 2015) e na primeira avaliação com creme lanette as preparações com apigenina em todas as concentrações reduziu o número de fricções em aproximadamente 35%, o que sugere que a absorção foi mais rápida após a incorporação do ativo e isso se manteve na segunda avaliação. Nas preparações de apigenina 1% e 3% esses valores se mantiveram na segunda avaliação, sendo diminuídos apenas no controle e apigenina 5%. A cerosidade, que é a capacidade de um produto deixar película ou resíduo (Palermo, 2015), foi aumentada nas preparações com apigenina, em especial nas concentrações de 3% e 5%.

Os dados com o creme não iônico estão apresentados nas tabelas 2, 3, 4 e 5 nas colunas 5, 6 e 7. Pode-se observar que a pegajosidade visual, umidade, espalhamento, brilho, resíduo, suavidade, oleosidade e gordura se mantiveram inalterados após a incorporação de apigenina quando comparados com o controle. A pegajosidade sensorial apresentou uma redução de 6 para 5 quando da incorporação do ativo. Observação semelhante foi observada em relação à cerosidade, que foi de 7 no controle para 6 nas preparações com apigenina, o que sugere uma tendência na diminuição desse parâmetro, assim como da pegajosidade sensorial. Por outro lado, o número de fricções necessárias para que o cosmético perca umidade foi maior nas preparações com apigenina e na primeira avaliação isso foi independente da concentração. Na segunda avaliação as preparações com apigenina 3% e 5% tiveram resultados semelhantes ao controle. O deslizamento, que é a capacidade com que os dedos deslizam sobre a pele (Palermo, 2015), foi aumentado aproximadamente em 30% nas preparações com o ativo a 5%, que foi inversamente proporcional a concentração com a preparação de apigenina 1%, que foi aumentada em torno de 50%.

A preparação gel creme apresentou pegajosidade visual e sensorial, espalhamento, brilho, oleosidade e gordura semelhantes ao respectivo controle (tabelas 2, 3, 4 e 5 colunas 8, 9 e 10). Houve uma redução da umidade (quantidade de água enquanto se fricciona o produto (Palermo, 2015)) que parece estar relacionada com a concentração, pois a preparação com apigenina 1% e 3% tiveram avaliação 6 e apigenina 5% teve avaliação 5 quando comparadas ao controle com nota 7. A capacidade de espalhamento foi levemente aumentada de 5 para 6 nas preparações com apigenina e este resultado parece ser independente da concentração e tempo. Também houve um aumento no número de fricções necessárias para a absorção dos produtos com apigenina em todas as concentrações quando comparadas ao controle.  De modo semelhante, as preparações com apigenina 3% permaneceram mais tempo sobre a pele (resíduo). Todas as formulações com apigenina tiveram maior suavidade na superfície em relação ao controle, o que juntamente com o melhor espalhamento e menor cerosidade sugerem uma vantagem da preparação.

Os dados com a preparação usando gel de natrosol (cujos dados estão nas tabelas 2, 3, 4 e 5 colunas 11, 12 e 13) apresentou pequenas alterações em relação à base controle, com aumento no número de fricções, pegajosidade sensorial e cerosidade, acompanhada pela diminuição da suavidade. Além disso, essa formulação demonstrou uma leve separação, podendo ser observada nas fases da figura 1 (Fotos N e S). Isso nos sugere que essa base pode não ser adequada para a incorporação da apigenina.

A preparação com o sérum manteve todas as propriedades após a incorporação da apigenina, exceto o brilho, resíduos e pegajosidade sensorial, que aumentaram após adição do ativo.

Tabela 2: Analise sensorial – bases galênicas sem a adição de apigenina (controle).A1 – Análise sensorial 1:  23/10/2017; A2 – Análise Sensorial 2 : 30/10/2017; A3 – Análise sensorial 3: 06/11/2017

Tabela 3: Analise sensorial – concentração apigenina 1%A1 – Análise sensorial 1:  23/10/2017; A2 – Análise Sensorial 2 : 30/10/2017; A3 – Análise sensorial 3: 06/11/2017

Tabela 4: Analise sensorial – concentração apigenina 3%A1 – Análise sensorial 1:  23/10/2017; A2 – Análise Sensorial 2 : 30/10/2017; A3 – Análise sensorial 3: 06/11/2017

Tabela 5: Analise sensorial – concentração apigenina 5%A1 – Análise sensorial 1:  23/10/2017; A2 – Análise Sensorial 2 : 30/10/2017; A3 – Análise sensorial 3: 06/11/2017

CONCLUSÂO

Concluímos que a apigenina é um ativo passível de ser incorporado em várias bases galênicas, apresentando apenas algumas alterações do produto que aparentemente não seriam relevantes para que o cliente evitasse o uso do cosmético. A formulação com gel de natrosol apresentou uma leve separação em fases, o que poderia comprometer a formulação e visualmente induzir o indivíduo a não adesão do uso do cosmético. Algumas preparações como a gel creme apresentaram melhoria de alguns parâmetros o que sugere que seria uma base interessante para a incorporação da apigenina. Entretanto outros estudos ainda precisam ser realizados para fortalecer os resultados, dar continuidade aos avanços tecnológicos do produto final, trazendo mais uma alternativa de mercado de tratamento e/ou prevenção dos sinais de envelhecimento.

REFERENCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guia de estabilidade de produtos cosméticos. v. 1; Série Temáticas; Brasília: ANVISA; 2004. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/106351/107910/Guia+de+Estabilidade+de+Produtos+Cosm%C3%A9ticos/49cdf34c-b697-4af3-8647-dcb600f753e2> Acesso em: 24/08/2017.

CHOI, S; YOUN J; KIM, K.; JOO, H; SHIN, S; LEE, J; LEE, H. K; AN, I. S; KWON, S; YOUN, H. J; AHN, K. J; AN, S; CHA, H. J. Apigenin inhibits UVA-induced cytotocicity in vitro and prevents signs of skin aging in vivo. International Journal of Molecular Medicine. 38: 627-634; 2016.

DAVIS, W. L. AND MATTHEW, S. B.; Antioxidants and cancer III: quercetin, Alternative Medicine Review, vol. 5, no. 3, pp. 196–208, 2000.

Farage, M. A; Miller, K. W; Elsner, P; Maibach, H. I: Intrinsic and extrinsic factors in skin ageing: a review. Int J Cosmet Sci 30: 87-95; 2008.

Ha, S. K; Lee, P; Park, J. A; Oh, H. R; Lee, S. Y; Park, J. H; Lee, E. H; Ryu, J. H; Lee, K. R; Kim, S. Y: Apigenin inhibits the production of NO and PGE2 in microglia and inhibits neuronal cell death in a middle cerebral artery occlusion-induced focal ischemia mice model. Neurochem Int 52: 878-886; 2008.

Hashizume, H: Skin aging and dry skin. J Dermatol 31: 603-609; 2004.

HUNTER, T. Protein kinases and phosphatases: the yin and yang of protein phosphorylation and signaling, Cell, vol. 80, no. 2, pp. 225–236, 1995.

Jenkins, G: Molecular mechanisms of skin ageing. Mech Ageing Dev 123: 801-810; 2002.

Landau, M: Exogenous factors in skin aging. Curr Probl Dermatol 35: 1-13, 2007.

Lim, S. H; Kim, S. M; Lee, Y. W; Ahn, K. J; Choe, Y. B: Change of biophysical properties of the skin caused by ultraviolet radiationinduced‑ photodamage in Koreans. Skin Res Technol 14: 93-102; 2008.

Litvoc, J; Brito, F. C. organizadores. Envelhecimento: Prevenção e Promoção da Saúde. São Paulo: Atheneu; 2004. 226 pp.

Lodhi, S; Singhai, A. K: Wound healing effect of flavonoid rich fraction and luteolin isolated from Martynia annua Linn. on streptozotocin induced diabetic rats. Asian Pac J Trop Med 6: 253-259, 2013.

MiniM, V. P. R e Silva C. S. N; Análise Sensorial Descritiva, 1ª Edição, UFV, 2016, pp 280.

Myhrstad, M. C; Carlsen, H; Nordström, O; Blomhoff, R; Moskaug, J. Ø: Flavonoids increase the intracellular glutathione level by transactivation of the gamma-glutamylcysteine synthetase catalytical subunit promoter. Free Radic Biol Med 32: 386-393; 2002.

Palermo, J. R; Análise Sensorial Fundamentos e Métodos. 1ª Edição Atheneu, 2015, pp 160.

Polier, G; Giaisi, M; Köhler, R; Müller, W. W; Lutz, C; Buss, E. C; Krammer, P. H; Li-Weber M. Targeting CDK9 by wogonin and related natural flavones potentiates the anti-cancer efficacy of the Bcl-2 family inhibitor ABT-263. Int J Cancer 136: 688-698; 2015.

SHAKEEL, F; ALSHEHRI, S; IBRAHIM, M. A; ELZAYAT E. M; ALTAMIMI, M. A; MOHSIN, K; ALANAZI, F. K.; ALSARRA, I. A; Solubility and thermodynamic parameters of apigenin in different neat solvents t different temperatures. Alsarra Journal of Molecular Liquids 234 (2017) 73–80.

Sharma, H; Kanwal, R; Bhaskaran, N; Gupta, S. Plant flavone apigenin binds to nucleic acid bases and reduces oxidative DNA apigenin binds to nucleic acid bases and reduces oxidative DNA damage in prostate epithelial cells. PLoS One 9: e91588: 2014.

Singer, A. J; Clark, R. A: Cutaneous wound healing. N Engl J Med 341: 738-746, 1999.

Singh, J. P; Selvendiran, K; Banu, S. M; Padmavathi, R; Sakthisekaran, D. Protective role of Apigenin on the status of lipid peroxidation and antioxidant defense against hepatocarcino­genesis in Wistar albino rats. Phytomedicine 11: 309-314; 2004. Disponivel <https://cosmetics.specialchem.com/inci/apigenin> acesso em 09/11/2017.

Taupin, P. Apigenin and related compounds stimulate adult neurogenesis. Mars; Inc.; the Salk Institute for Biological Studies: WO2008147483. Expert Opin Ther Pat 19: 523-527; 2009.

Viña, J; Borrás, C; Miquel, J; Theories of ageing. IUBMB Life 59: 249-254; 2007.

Wang, J; Liu, Y. T; Xiao, L; Zhu, L; Wang, Q; Yan, T: Antiinflammatory‑ effects of apigenin in lipopolysac­charideinduced‑ inflammatory in acute lung injury by suppressing COX-2 and NF-kB pathway. Inflammation 37: 2085-2090; 2014.

Wei, H; Tye, L; Bresnick, E; Birt, D. F: Inhibitory effect of apigenin, a plant flavonoid; on epidermal ornithine decarboxylase and skin tumor promotion in mice. Cancer Res 50: 499-502; 1990.

XIAO, M; SHAO, Y; YAN. W; ZHANG, Z; Measurement and correlation of solubilities of apigenin and apigenin 7-O-rhamnosylglucoside in seven solvents at different temperatures, J. Chem. Thermodyn. 43 (2011) 240–243.

Zouboulis, C. C; Makrantonaki. E; Clinical aspects and molecular diagnostics of skin aging. Clin Dermatol 29: 3-14; 2011.