Aline Barbosa Tavares*, Daiane Guidolin*, Sabrina Crisitna Vaz*, Sybelle Okyama**, Keylla Lençone Mischiatti**, Patrícia de Souza Nuevo***, Viviane Magas****

*Discente do curso Superior de Tecnologia  Estética e Cosmética. Centro Universitário UNIOPET.

** Docente do Curso de Estética e Cosmética. Centro Universitário UNIOPET. Doutora em Ciências Farmacêuticas. UFPR.

***Docente do curso de Tecnólogo em Estética e Cosmética – Centro Universitário UNIOPET. Especialista em MBA em Estética Clínica Avançada e Cosmetologia: MBA em Visagismo e Estética: Gestão Integrada na Imagem Pessoal.

****Docente do Curso de Estética e Cosmética. Centro Universitário UNIOPET. Mestre em Tecnologia da Saúde/Engenharia Biomédica. PUC/PR. E

Autor correspondente: vivianemagas@hotmail.com

RESUMO

O câncer de mama é uma doença severa que afeta não apenas a parte física, como também a parte emocional e psicológica do indivíduo. Após a descoberta da doença a paciente inicia um tratamento mais indicado para o seu caso, podendo abranger quimioterapia, radioterapia ou a cirurgia. A mastectomia é definida como um procedimento cirúrgico com a retirada total ou parcial da mama, podendo ou não estar associado à retirada dos gânglios. Embora o processo cirúrgico seja a única chance de cura, existe um abalo emocional da paciente em perder uma parte tão importante do corpo feminino como a mama.

Para diminuir o impacto da perda da mama e aréola, existem técnicas menos invasivas, como a micropigmentação, que reconstituem e recriam o desenho das aréolas de forma natural e segura. O objetivo geral do trabalho é mostrar a técnica de micropigmentação como uma forma segura e acessível, na reconstituição da aréola mamária após a mastectomia em pacientes pós câncer de mama. Para isso foi realizada uma revisão de literatura utilizando bases de dados em artigos científicos em Pubmed, Web of Science e Google Acadêmico de publicações realizadas nos últimos cinco anos.  Observou –se que a técnica é eficaz em seus resultados e produz uma uniformidade na cor dos seios e na aréola deixando a mama com um aspecto similar ao de antes da intervenção, podendo ser uma boa opção para pacientes que não podem ou não desejam passar por um novo procedimento cirúrgico de reconstituição.

Palavras Chaves: Câncer de mama, Mastectomia, Micropigmentação.

Abstract: Breast cancer is one of the main factors responsible for the increase in the female mortality rate. After the discovery of the disease, the patient initiates the treatment indicated for her case, which may include chemotherapy, radiotherapy or mastectomy. Mastectomy is defined as a surgical procedure, and the total or partial removal of the breast is performed, and may or may not be associated with the removal of the lymph nodes. In many cases it is the only chance for healing, but there is the emotional shock.However, there are several reconstructive surgical techniques, as well as less invasive techniques such as micropigmentation, a minimally invasive technique that recreates the design of the areolae naturally and safely. It is a good choice for patients who can not or do not wish to undergo a new surgical procedure. This medium can be realized by the aesthetic professional, who is trained in the area.

Key words: Breast cancer, Mastectomy, Micropigmentation.

 INTRODUÇÃO

 Os casos de câncer de mama crescem cada vez mais entre a população feminina mundial. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a doença é responsável por 12% de mortes no mundo e a estimativa para os anos de 2016 e 2017 é de cerca de 600 mil novos casos no Brasil. Entre os pacientes com carcinoma, o câncer de mama representa 28% dos casos, dados do Sistema de Informações sobre a Mortalidade (SIM), mostram que o número de mortes no ano de 2013 chegou aos 14.388 casos. Informações do Portal da Saúde do SUS, relatam que o câncer de mama atinge uma parcela da população infantil e adolescente, ficando atrás apenas dos casos de câncer de tireoide, alcançando significativamente 12,46 milhões de casos ^1,2.

Após a constatação do câncer de mama a paciente inicia o tratamento mais indicado para o seu caso, o que pode abranger quimioterapias, radioterapias ou a mastectomia.

A mastectomia em muitos casos é a única chance de cura, entretanto para as mulheres o abalo emocional de perder uma parte do corpo é inevitável. O seio da mulher desde a antiguidade aos dias atuais é a conotação simbólica da feminilidade. Diante de tal fato técnicas cirúrgicas de reconstrução do complexo areolopapilar assim como técnicas menos invasivas como a micropigmentação, vem crescendo na área da estética ^3,4.

A técnica de micropigmentação é uma técnica minimamente invasiva. Por meio de um aparelho chamado demógrafo recria o desenho das aureolas de forma natural e segura^5.

O objetivo geral do trabalho é mostrar a técnica de micropigmentação como uma forma segura e acessível na reconstituição da auréola mamária após a mastectomia em pacientes com câncer de mama. Uma boa opção para pacientes que não podem ou não desejam passar por um novo procedimento cirúrgico de reconstituição.

 METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão de literatura utilizando bases de dados em artigos científicos em Pubmed, Web of Science e Google Acadêmico de publicações realizadas nos últimos cinco anos. As palavras chaves utilizadas foram : Breast Cancer, Mastectomy, Micropigmentation

 RESULTADOS/DISCUSSÃO

Também conhecida como dermopigmentação, a micropigmentação é realizada com a inserção de pigmentos na camada dérmica e subdérmica da pele. Esse procedimento de “camuflagem”, também conhecido como micropigmentação paramédica, é um grande aliado pós cirurgias plásticas no intuito de amenização de cicatrizes e reconstrução de mamilos para paciente pós mastectomizados ^6,5,7.

A técnica de micropigmentação aplicada vai depender do tipo de cirurgia ao qual foi submetida a paciente. Nos casos de mastectomia total com a retirada de toda o complexo areolopapilar é necessária a reconstituição mamária em alguns casos, o médico pode optar por enxertos ^{8, 9}.

O primeiro passo a ser tomado ao receber a paciente é a realização de uma avaliação para analisar a possibilidade da realização do procedimento com o auxílio da ficha de anamnese. As coletas de dados são importantes para a realização da micropigmentação com melhor eficiência, além de garantir ao profissional o respaldo legal. Neste documento devem estar contidas além das informações pessoais da paciente o motivo que a levou a procurar o profissional, bem como os seus dados clínicos, análise de patologias, hábitos alimentares e medidas das mamas. Na ficha de anamnese é importante anexar fotos do local onde será realizado o procedimento (se houver consentimento), e anexar também a autorização médica ¹⁰.

O segundo passo é desenhar a nova aréola que será reconstituída, para isso utiliza-se o aréolotomo, um instrumento circular que auxilia na simetria das mamas ^8.

Após o desenho da aréola se faz necessária a escolha da cor. Os pigmentos utilizados devem ser apropriados para a micropigmentação e hipoalergênicos. Esses pigmentos quando incorporados na pele se igualam a organização da melanina nos melanócitos. Em sua composição são encontrados sais de metais em suspensão alcoólicas, glicerinada e água destilada. Cada sal de metal equivale a uma cor, como por exemplo: preto – carbono, óxidos de ferro ou titânio; vermelha – mercúrio; verde – cromo ou potássio; amarela – cadmio; azul – cobalto; purpura – manganês ¹¹.

Atualmente os fabricantes de pigmentação estão desenvolvendo novas cores na tentativa de obter a pigmentação mais próxima da pele do corpo humano na tentativa de camuflar cicatrizes que a intervenção cirúrgica gera sobre os tecidos. Pigmentos com tons esverdeados são utilizados para neutralizar peles avermelhadas/quentes, e pigmentos alaranjados são utilizados para neutraliza colorações azuladas ou esverdeadas/fria. Esse novos pigmentos são utilizados na dermopigmentação ¹² (QUADRO 1).

Quadro 1: Relação de cores com tipo de temperamento da pele e tipos de peles. Iron Works Brasil,2014

Em relação a seleção da coloração, a mesma deve ser feita junto a paciente com a escolha da tonalidade da aréola de acordo com a mama afetada, podendo selecionar de 2 a 3 diferentes tonalidades de cores (FIGURA 1). A técnica de micropigmentação também é utilizada para amenizar a diferença de tons uniformizando a coloração dos mamilos trazendo um resultado natural ⁹.

Figura 1: Micropigmentação-Reconstrução mamária teste de coloração. Fonte: Mag estética, 2014.

Para a realização do procedimento pode-se utilizar duas técnicas distintas, o Tebori, conhecida como técnica manual, e a técnica elétrica com dermógrafo. A técnica Tebori é uma técnica manual que utiliza uma caneta de aço inoxidável contendo na ponta uma lâmina com agulhas. Já a técnica elétrica com dermógrafo utiliza varia agulhas de diferentes tamanhos na ponteira ¹³.

A técnica mais utilizada é realizada com o auxílio do demógrafo, que possui um pequeno motor e funciona com o auxílio de uma fonte elétrica, no qual são encaixadas as ponteiras com pequenas agulhas, que podem variar de 1 a 14 unidades, agrupadas com hastes de aproximadamente 0.35 de diâmetro. As agulhas devem ser estéreis e o aparelho higienizado ^{13, 14}.

O profissional deve estar atento e ter conhecimento da propriedade de seus instrumentos de trabalho. As agulhas utilizadas devem ser de aço cirúrgico e inoxidável, material que apresenta maior resistência, trazendo segurança e precisão; elas possuem diferentes tamanhos e formatos, cada uma tem uma função distinta, porém o profissional pode escolher o formato que mais o agrada e favorece o desempenho de sua técnica¹⁰ (QUADRO 2).

A agulha deve estar posicionada em um ângulo de 45º em um processo curto e lento iniciado na parte externa em direção ao centro, deixando o resultado próximo ao original. Aconselha o uso das agulhas circulares de três pontas na área central, para se obter uma aparência degrade, e agulhas lineares de cinco pontas para o preenchimento areolar. Vale ressaltar que ao redor do bico do seio será sempre mais clara criando uma aparência de projeção. O profissional também deve ficar atento a possíveis mudanças que podem ocorrer na tonalidade após realizado o procedimento ¹⁴.

Quadro 2: Modelo, aplicação, tamanho e profundidade alcançada pelos diferentes tipos de agulhas.O pigmento implantado na pele é depositado na camada subepidérmica, passível de regeneração celular. No momento em que o pigmento é inserido na pele, as células de defesa do nosso organismo tendem a realizar a fagocitose na tentativa de defender o organismo de invasores externos, com isso, as células de defesa cercam o pigmento na tentativa de isolá-lo com o auxílio de filamentos denominados fibrilas. Esses filamentos auxiliam a evitar a movimentação dos pigmentos fixando-os no lugar aplicado ¹⁰.

O tempo de permanência do pigmento depende da técnica e das agulhas utilizadas podendo permanecer de 2 a 5 anos sem retoques. Outro fatores como o uso de alguns cosméticos, oleosidade da pele, exposição solar, ou mesmo o material utilizado podem interferir no tempo de duração ^{13, 14}.

Uma opção de terapia auxiliar é a aplicação de alta frequência antes do método de micropigmentação, promovendo a circulação sanguínea e contribuindo para a incorporação do pigmento. Outra forma de obter inserção de pigmentos é a utilização de produtos que contenham o aloe vera e azuleno por possuírem benefícios como higienização local, restauração da derme e lubrificação ⁷.

Todo o material utilizado deve ser comprado de fornecedores confiáveis e liberados pela ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Em todo território Nacional apenas quatro marcas tem autorização da ANVISA: Starbrite Colors, Eletric Ink e Iron Works, Mag Golg ¹¹.

A micropigmentação é considerada um procedimento minimamente invasivo, no qual o profissional tem contato direto com sangue e secreções, isso traz a necessidade de alguns cuidados especiais que devem ser tomados para sua realização. O profissional deve seguir algumas regras de biossegurança preconizadas pela ANVISA como a correta lavagem das mãos, o uso correto dos EPI’s (touca, mascara, luva), desinfecção do local, assepsia correta do local a ser realizado o procedimento e até mesmo o descarte correto de todo o material utilizado, principalmente os perfuro cortantes ¹⁵.

Para se realizar o procedimento de micropigmentação é primordial o profissional ter uma qualificação necessária, cuidando com questões relacionadas a biossegurança ¹⁶.

A técnica de micropigmentação só pode ser realizada diante de uma liberação médica. Existem alguns casos em que o método é contraindicado, como portadores de diabetes, trombose, leucemia, HIV, hipertensão e gravidez ^12,10.

CONCLUSÃO

Na área da estética existe várias possibilidades para melhorar a autoestima das pacientes, um exemplo disso é a micropigmentação, uma técnica antiga que está sendo utilizada nos dias atuais. Observou –se que a técnica é eficaz em seus resultados e produz uma uniformidade na cor dos seios e na aréola deixando a mama com um aspecto similar ao de antes da intervenção, podendo ser uma boa opção para pacientes que não podem ou não desejam passar por um novo procedimento cirúrgico de reconstituição.

Para se tornar uma micropigmentadora basta a formação em um dos diversos cursos ministrados, mas vale salientar que a profissional em estética está melhor preparada para esta função graças a sua grade curricular que garante preparo principalmente no que corresponde a biossegurança, colorimetria e demais cuidados que possam ser associados, trazendo maior segurança e melhores resultados a paciente.

REFERÊNCIAS

1. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (Brasil). Estimativa 2016. Incidência do Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2015.
2. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Informática do SUS (Datasus). Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM. http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0205 Acesso em: 28/09/2017.
3. SILVA, Lucia Cecilia; 2008, Câncer de Mama e Sofrimento Psicológico: Aspectos Relacionados ao Feminino; Maringá – PR, 2008.
4. Murphy AD, Conroy FJ, Potter SM, Solan J, Kelly JL, Regan Patient satisfaction following nipple-areola complex reconstruction and dermal tattooing as an adjunct to autogenous breast reconstruction. Eur J Plast Surg. 2010;33(1):29-33.
5. Sanderson BF, Bitencourt CF, Silva FF, Balconi GT, Brito TLC, Duarte Dermopigmentação uma Alternativa Estética e Reparadora. ULBRA, Santa Maria, 2009.
6. BAUMANN, L. Dermatologia Cosmética: Princípios e Prática Rio de Janeiro: Revinter, 2004.
7. Martins A, Martins Micropigmentação, a beleza feita com arte. 1ª ed. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2009.
8. MARTINS MC, MAIA DP; AZEVEDO MA. A Micropigmentação Paramédica Areolar Pós-Mastectomia. Pós graduação em Procedimentos Estéticos Pré e Pós-Operatório, Bio Cursos, 2017.
9. PESSOA SGP, MATOS JRF, DIAS IS, PESSOA BBG; ALENCAR JC. Técnica simples e segura para reconstrução areolopapilar com tatuagem intradérmica. Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia Reconstrutiva do Hospital Universitário Walter Cantidio BCP; Fortaleza – CE, 2012.
10. GIARETTA, E. Micropigmentação: Arte e Responsabilidade 6 Edição. Itatiba/ São Paulo. Editora ABM pp 83,204,205, 2017.
11. MAIO M, SALLES AG. Tratado de Medicina Estética, volume III, segunda edição, editora Roca, São Paulo, pp108,1376,2011.
12. IRON WORKS (Brasil). Fabricante de material para tatuagem e maquiagem definitiva, http://ironworksbrasil.com.br/. Acesso em: 27/10/2017.
13. Fonseca PF, Tozo FC. Micropigmentação de Sobrancelhas, TCC do curso de Tecnólogo em Estética e Imagem Pessoal da Universidade Tuiuti do Paraná – Curitiba, PR, 2017.
14. BRANDÃO FM, CARMO KF, MENEGAT TA. Dermopigmentação cutânea em pacientes mastectomizadas. Goiânia: Universidade Católica de Goiás, 2014.
15. CORTELLI AF. Procedimentos de biossegurança adotados por profissionais prestadores de serviços de manicure, pedicure, tatuagem, piercing e maquiagem definitiva no município de Jacaréi – SP. Tese de mestrado, USP – SP, 2012.
16. FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE MAMA. Micropigmentação paramédica para desenho de mamilo e aréola, FEMAMA, 2017.