Celulite, do latim cellulite, é o termo popular erroneamente dado à afecção inestética, que modifica a textura da pele, deixando-a com o aspecto de “casca de laranja”. Os nomes científicos mais aceitos são o fibro edema gelóide (FEG) e a lipodistrofia ginóide (LDG), porém existem outros termos técnicos que podem ser utilizados para se referir a esta desordem, sendo eles: lipodistrofia localizada, hidrolipodistrofia genóide, lipoesclerose nodular, lipoesclerose na evolução da dermo-hipodermose celulítica, hipodermose celulítica, lipoedema, lipolinfoedema, histoangiopatia, paniculopatia edemato-fibroesclerótica e paniculose da derme.

 Formação

             A celulite/FEG é uma alteração localizada que ocorre na pele, também chamada de tegumento ou sistema tegumentar. Ela atinge todas as três camadas deste tecido, de maneira decrescente, começando pela hipoderme, seguida da derme e da epiderme. Nesta disfunção acontecem várias modificações: na forma (morfológica), na composição química (histoquímica), na composição bioquímica e na estruturação celular (ultraestrutura).

            Alguns estudos sugerem que o início destas transformações se desenrola na matriz intersticial (MI). A MI é composta por um líquido chamado de substância fundamental amorfa e fica localizada no meio extracelular, mais precisamente nos espaços existentes entre as células. Esta substância tem o aspecto de gel viscoso e é formada a partir da união de dois elementos importantes, chamados de proteoglicanos e glicosaminoglicanos. Os glicosaminoglicanos são macromoléculas hidrófilas, ou seja, que se ligam com um grande número de moléculas de água. Os proteoglicanos, através dos fibroblastos, são responsáveis pela formação das fibras colagênicas (colágeno) e fibras elásticas (elastina) da derme, cujo conjunto forma um verdadeiro tecido de sustentação celular, que sua principal função é a flexibilidade e a elasticidade da pele.

            Desta forma, quando ocorre uma alteração nas proteoglicanas e glicosaminoglicanas, a substância fundamental amorfa tem o transporte de água comprometido, causando uma retenção hídrica e o aumento da viscosidade. O excesso de líquido no espaço intersticial gera edema local e comprime os vasos linfáticos e sanguíneos afetando a microcirculação. Quando isso ocorre, as trocas metabólicas também são prejudicadas, impedindo o sangue de levar oxigênio e nutrientes para as células. E devido a esta falta de irrigação sanguínea e troca metabólica, as células adiposas sofrem hipertrofia, ou seja, aumentam de tamanho.

            O aumento de tamanho dos adipócitos gera uma compressão, um aperto dos vasos, que ficam impossibilitados de desempenharem sua função habitual, sendo obrigados a sofrerem uma dilatação, que resulta no extravasamento de líquidos serosos, repletos de resíduos celulares, para o meio intersticial. Estes resíduos são reconhecidos substâncias exógenas e, portanto, considerados “corpos estranhos” ao organismo. Isso desencadeia uma série de reações químicas (mecanismo de defesa) que dentre outros efeitos, resulta em um tecido espesso e gelatinoso, e, cuja densidade se acentua com o tempo.

            A intensificação da densidade promove irritação, proliferação desordenada e perda de elasticidade das fibras teciduais (colágenas e elásticas), gerando ainda mais compressão nos adipócitos, que já estão hipertróficos, formando micronódulos, que irão se unir e compor os macronódulos e então origina-se o tecido fibroso. O tecido fibroso fica, constantemente, mais obstruído, endurece continuamente e com o tempo, transforma-se em um tecido endurecido. Com o endurecimento tecidual é formado um estresse contínuo nas terminações nervosas, ocasionando dores na palpação.

            É nesta fase também que o aspecto “casca de laranja” manifesta-se. Entre a derme e os adipócitos da hipoderme, existem estruturas de sustentação chamadas de trabéculas interlobulares (formadas, através dos fibroblastos, pelas proteoglicanas). Com a falha de função das fibras colágenas e elásticas e o endurecimento do interstício, essas trabéculas sofrem retração, ocasionando elevação da superfície da pele e criando depressões irregulares no tecido que deixam a pele com a aparência de “casca de laranja”.

 Causa

            No caso da FEG ainda não há uma causa única estabelecida, o que existe são, vários aspectos multifatoriais que embora não sejam capazes de desencadear o problema isoladamente, podem contribuir para o agravamento do quadro.

            Dentre estes fatores estão: genética, idade, gênero/sexo, desequilíbrio hormonal, estresse/distúrbios psicossomáticos, gravidez, fumo/tabagismo, sedentarismo, maus hábitos alimentares, obesidade e sobrepeso, compressões externas, medicamentos, temperatura, desequilíbrios glandulares, perturbações metabólicas do organismo em geral (diabetes), disfunções hepáticas e intestinais, distúrbios circulatórios, posturais e ortopédicos.

 Localização

“O fibro edema gelóide pode atingir qualquer parte do corpo, exceto as palmas das mãos, as plantas dos pés e o couro cabeludo. São atingidas com maior frequência a porção superior das coxas, interna e externamente, a porção interna dos joelhos, região abdominal, região glútea e porção superior dos braços, ântero e posteriormente” (GUIRRO & GUIRRO, 2002).

 REFERÊNCIAS

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GUIRRO, Elaine Caldeira de Oliveira; GUIRRO, Rinaldo Roberto de J. Fisioterapia Dermato-Funcional: Fundamentos, Recursos, Patologias. 3 ed. rev. e ampliada. São Paulo: Malone, 2004.

KEDE, Maria Paulina Villarejo; SABATOVICH, Oleg. Dermatologia Estética. 2 ed. rev. e ampliada. São Paulo: Editora Atheneu, 2009.

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